“Mãe é quem fica”, de Cora
Coralina
Depois que todos vão.
Depois que a luz apaga.
Depois que
todos dormem.
Mãe fica.
Às vezes não fica em
presença física.
Mas mãe sempre fica.
Uma vez que você tenha um
filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver.
Uma parte sempre fica.
Fica neles.
Se eles comeram.
Se dormiram na hora certa.
Se brincaram como deveriam.
Se a professora da escola é
gentil.
Se o amiguinho parou de bater.
Se o pai lembrou de dar o
remédio.
Mãe fica.
Fica entalada no escorregador
do espaço kids, pra brincar com a cria. Fica espremida no canto da cama de
madrugada pra se certificar que a tosse melhorou. Fica com o resto da comida do
filho, pra não perder mais tempo cozinhando.
É quando a gente fica que
nasce a mãe.
Na presença inteira.
No olhar atento.
Nos braços que embalam.
No colo que acolhe.
Mãe é quem fica.
Quando o
chão some sob os pés.
Quando todo
mundo vai embora.
Quando as
certezas se desfazem.
Mãe
fica.
Mãe é a teimosia do amor, que
insiste em permanecer e ocupar todos os cantos.
É
caminho de cura.
Nada jamais será mais
transformador do que amar um filho.
E nada jamais será mais
fortalecedor que ser amado por uma mãe.
É porque a mãe fica, que o
filho vai.
E no filho que vai, sempre
fica um pouco da mãe:
Em um jeito peculiar de dobrar
as roupas.
Na mania de empilhar a louça
só do lado esquerdo da pia.
No hábito de sempre avisar que
está entrando no banho.
Na compaixão pelos outros.
No olhar sensível.
Na
força pra lutar.
No
coração do filho, mãe fica.